As famílias brasileiras mostram interesse crescente em poupar parte de sua renda para a aposentadoria, mas são poucos os que já têm um plano de previdência privada. É o que mostra estudo da consultoria Kantar Worldpanel a pedido da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).
De acordo com o estudo, que abrangeu 8,2 mil domicílios, o número de famílias que planeja poupar para a previdência saltou de 29% em 2008 para 44% no ano passado. No entanto, apenas 4% das famílias consultadas têm um plano de aposentadoria complementar, como PGBL e VGBL.
O crescimento acelerado do números de famílias que desejam poupar para aposentadoria surpreendeu a Fenaprevi, diz Renato Russo, vice-presidente da entidade. Isso mostra que há um terreno fértil para expansão da previdência privada no país, diz ele, ressaltando que os ativos dos planos privados subiram de R$ 68 bilhões para R$ 201 bilhões. Houve um crescimento grande, mas a penetração ainda é baixa, acrescenta.
Para Russo, as dúvidas em torno das possíveis alterações nas regras da previdência pública e a própria mudança demográfica do país - que mostra um envelhecimento progressivo da população - explicam o aumento do interesse em poupar para a aposentadoria. Já foi superada aquela fase em que as pessoas investiam apenas para comprar um bem, como um carro ou uma casa, diz Russo. Muita gente está percebendo a dificuldade dos idosos em manter um bom padrão de vida apenas com a aposentadoria pública.
A pesquisa mostra ainda que 10% das famílias das classes A e B (com renda mensal acima de 10 salários mínimos) investem em previdência privada. Entre os domicílios da classe C (renda mensal entre 4 e 10 salários mínimos), apenas 4% têm um plano de previdência. Esse percentual cai para 1% entre as famílias das classes D e E, cuja renda mensal varia entre 1 e 4 salários mínimos.
Além da escassez de renda, que atinge as classes C, D e E, Russo ressalta que o percentual de famílias da classe A que tem planos de previdência privada no Brasil ainda está muito aquém do que se observa nos países desenvolvidos. Há espaço para crescer em todas as faixas de renda, sobretudo em A, B e C, diz ele, lembrando que, no caso das classes D e E, a aquisição de um seguro de vida costuma vir antes da contratação de um plano de previdência.
Entre as regiões do país, a pesquisa mostra que 8% das famílias dos estados do Sul contribuem para um fundo privado de previdência. Elas destinam R$ 1.353 por ano aos planos, volume 16% superior à média nacional (R$ 1.167). Na segunda posição, aparece o interior do Estado de São Paulo, em que 6% das famílias têm plano de previdência complementar. Em seguida, surgem o interior do Estado do Rio de Janeiro e os estados do Espírito Santos e Minas Gerais (5% dos domicílios têm planos).
Para surpresa da Fenaprevi, diz Russo, a Grande São Paulo e o Grande Rio de Janeiro aparecem apenas na quarta posição. Somente 4% das famílias dessas localidades aplicam em fundos de previdência aberta. É interessante notar que a renda média é mais elevada em São Paulo e Rio, mas quem mais poupa são as famílias do Sul, afirma Russo. Não é possível saber ao certo, mas talvez a educação financeira e a cultura de poupança sejam mais disseminadas no Sul do país.
No Centro-Oeste, 3% dos domicílios investem em planos de aposentadoria, à frente apenas do Norte e Nordeste, onde esse percentual cai para 2%. Nessas duas regiões, as contribuições médias das famílias para a previdência privada são de R$ 969 por ano, 17% menores que a média nacional (R$ 1.167).
Em relação à faixa etária, as pessoas entre 40 e 49 anos são as que mais aplicam em previdência, destinando em média R$ 1.270 por ano aos fundos privados. Na outra ponta, os indivíduos que têm entre 30 e 39 anos contribuem com R$ 1.074, a menor média entre as faixas etárias. As pessoas com até 29 anos estão um pouco à frente, com investimento anual de R$ R$ 1.080.
Segundo o estudo, esses números refletem a própria composição do orçamento doméstico por faixa etária. Nos domicílios em que os chefes de família têm entre 30 e 39 anos, os gastos mensais, na média, superam as receitas em 6%. Já nas famílias lideradas por pessoas entre 40 e 49 anos, o quadro é inverso: as receitas superam os gastos mensais em cerca de 2%, ou seja, há sobra para poupar.
Os jovens têm uma propensão maior ao gasto, diz Russo, e muitas vezes não se sentem confortáveis em trocar o consumo imediato por investimentos para assegurar o bem-estar futuro. É uma questão de educação financeira, afirma o executivo. Os jovens precisam entender que, como têm mais tempo até a aposentadoria, podem atingir um patrimônio elevado poupando pequenos valores por mês.
Fonte: Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário